terça-feira, 6 de outubro de 2009

Gonçalves Dias - O poeta ufanista



Antes de iniciarmos nossos conhecimentos sobre o referido autor, é importante relembrarmos que ele pertenceu ao período do Romantismo, que como toda estética literária pautava-se em bases ideológicas oriundas do contexto político, cultural e social da época vigente
Em se tratando do “contexto”, o país acabava de conquistar sua independência política, até então colônia portuguesa. Entretanto, a independência política não acarretou maiores transformações na estrutura socioeconômica do Brasil, pois os latifundiários eram os grandes senhores da economia, que se manteve essencialmente agrária, fazendo com que a escravidão permanecesse intocada.
Em virtude disso, os escritores queriam definir o rumo cultural do país, baseando em uma identidade nacional, fazendo com que fossem valorizados elementos nativos do Brasil intocados pela máquina colonizadora.
E como representante principal deste movimento, destaca-se Antônio Gonçalves Dias. Nascido no Maranhão em 1823, orgulhava-se de suas três raças, que formaram a etnia brasileira: era filho de um comerciante português branco e de uma cafuza (mestiça de negro e índio).
Adolescente, seguiu para Portugal, onde concluiu os estudos secundários e formou-se em Direito pela Universidade de Coimbra.
Gonçalves Dias destacou-se na poesia lírico-amorosa, indianista e nacionalista. A temática principal de seus poemas era a valorização das maravilhas da natureza pátria, na qual o índio ocupou seu lugar de destaque, tendo como influência as ideias de Rousseau, com o mito do “Bom Selvagem”.
Dentre a sua produção indianista destaca-se Tabira, Marabá, O canto do Piaga, Canto do Guerreiro, Os Timbiras e I-Juca Pirama.
Vejamos a seguir alguns fragmentos do poema épico:
I-Juca Pirama
I
No meio das tabas de amenos verdores,
Cercadas de troncos — cobertos de flores,
Alteiam-se os tetos d’altiva nação;
São muitos seus filhos, nos ânimos fortes,
Temíveis na guerra, que em densas coortes
Assombram das matas a imensa extensão.
São rudos, severos, sedentos de glória,
Já prélios incitam, já cantam vitória,
Já meigos atendem à voz do cantor:
São todos Timbiras, guerreiros valentes!
Seu nome lá voa na boca das gentes,
Condão de prodígios, de glória e terror!
(...)
Gonçalves Dias. Poesia completa e prosa.
O título tem como significância - “o que há de ser morto” e o poema nos apresenta a história do último descendente da tribo Tupi, feito prisioneiro pelos Valentes Timbiras, cujo nome retrata a idealização do índio e a exaltação da natureza.
Na lírica, o poeta cultivou temas filosóficos, como o sentido heroico da existência no enfrentamento e superação constantes de obstáculos e frustrações, bem como do pessimismo diante dos rumos da vida, contido em uma tristeza dignificada pela arte. Observemos outros fragmentos do poema intitulado:
Ainda uma vez — Adeus
I
Enfim te vejo! — enfim posso,
Curvado a teus pés, dizer-te,
Que não cessei de querer-te,
Pesar de quanto sofri.
Muito penei! Cruas ânsias,
Dos teus olhos afastado,
Houveram-me acabrunhado
A não lembrar-me de ti!
II
Dum mundo a outro impelido,
Derramei os meus lamentos
Nas surdas asas dos ventos,
Do mar na crespa cerviz!
Baldão, ludíbrio da sorte
Em terra estranha, entre gente,
Que alheios males não sente,
Nem se condói do infeliz!
(...)
E na poesia nacionalista cita-se aquela que o consagrou um mártir da Literatura Brasileira, a qual retrata o verdadeiro sentimentalismo ufanista permeado por um lirismo incomparável:
Canção do exílio
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores. (...)

Álvares de Azevedo - O poeta ultrarromântico


Álvares de Azevedo - Amor = Sonho e Fantasia




Ao nos depararmos com a expressão “ultrarromântico”, logo nos remete à ideia de algo excessivo, realizado em demasia.

Mas é exatamente esta característica que permeou toda a criação artística dos poetas pertencentes à segunda geração do Romantismo.


O período Romântico compôs-se de três fases, que foram elas:


Primeira geração - Tinha como característica o “nacionalismo”, um sentimento ufanista muito voltado para as raízes culturais.




Segunda Geração - A temática predominante foi o Amor x a Morte alicerçada em um sentimentalismo exacerbado, repleto de um profundo pessimismo.


Terceira geração - Voltada mais para as questões sociais, a qual tinha como ideologia o desejo de “mudanças”, como, por exemplo, a abolição da escravatura referente ao período histórico vigente.



Em se tratando de Manuel Antônio Álvares de Azevedo, o mesmo nasceu em São Paulo, em 1831. Aos dez anos falava, lia e escrevia perfeitamente o francês e o inglês. Ingressou aos 16 anos na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco

Morreu aos 21 anos, sem ao menos ter publicado nenhuma de suas obras, entre as quais se destacam: Lira dos vinte anos, Poesias Diversas, O poema do frade, Macário (teatro), Noite na taverna (conjunto de narrativas fantásticas), além de discursos e cartas.

De acordo com as características ditas anteriormente, a segunda geração romântica foi também conhecida pelo Mal do Século, mas o que teria acontecido para tal nomenclatura?

A questão do culto ao pessimismo, ao sentimentalismo exacerbado, ao desejo de morrer como refúgio, em decorrência do amor não correspondido, levavam os escritores a optar por lugares sombrios, úmidos e tenebrosos.

Aliada a essa problemática, a maioria deles eram autênticos boêmios, e tinham como companheira inseparável a vida noturna.

Por essas e outra razões eram acometidos por doenças infecto-contagiosas, como por exemplo, a tuberculose. Consequentemente morriam de maneira bastante precoce.



Vejamos a seguir um dos poemas deste tão consagrado autor:





Amor






Amemos! Quero de amor Viver no teu coração! Sofrer e amar essa dor Que desmaia de paixão! Na tu’alma, em teus encantos E na tua palidez E nos teus ardentes prantos Suspirar de languidez!





Quero em teus lábios beber Os teus amores do céu, Quero em teu seio morrer No enlevo do seio teu! Quero viver d’esperança, Quero tremer e sentir! Na tua cheirosa trança Quero sonhar e dormir!





Vem, anjo, minha donzela, Minha’alma, meu coração! Que noite, que noite bela! Como é doce a viração! E entre os suspiros do vento Da noite ao mole frescor, Quero viver um momento, Morrer contigo de amor!







Diante do mesmo podemos identificar a presença do amor idealizado, visto somente no plano espiritual, sendo literalmente confirmado pela presença dos substantivos “palidez” e “languidez”, retratando uma mulher intocável, virginal e etérea.

Percebemos também que há um profundo desejo em conquistar a mulher amada, embora este pertença ao surreal, ao onírico.

Por fim, o poeta se inspira na natureza noturna, uma característica marcante da estética em voga, e não vê outra alternativa senão a morte como forma de alívio ao seu sofrimento.

A Prosa Gótica

A literatura de tradição gótica é representada por alguns escritores do Romantismo que se posicionaram contra os valores racionalistas e materialistas da sociedade burguesa e se identificaram com um ambiente satânico, misterioso, de morte, sonho e loucura, criando então uma literatura fantasiosa. Na literatura brasileira os elementos da tradição gótica, como a morte, o ambiente noturno, o amor, o vampirismo foram introduzidos por Álvares de Azevedo. Essa produção apresenta um caráter marginal e rompe com os valores da sociedade. Na Europa Charles Baudelaire e Mallarmé, nos Estados Unidos Edgar Allan Poe e no Brasil Cruz e Sousa, Alphonsus de Guimaraens e Augusto dos Anjos tiveram ligações com essa tendência. A produção gótico-romântica em prosa é representada pelas obras Noite na taverna (contos) e Macário (peça teatral); ambas de Álvares de Azevedo. A tradição gótica encontra adeptos não só na literatura, mas na música e no cinema. O ex-integrante do grupo Black Sabbath, Ozzy Osbourne é um dos representantes do rock satânico, o cinema também documentou esse movimento com os filmes Laranja mecânica (anos 70) e Juventude transviada (anos 50).

Romantismo





A estética romântica

Com a ascensão da burguesia ao poder na França, em 1789, surge a necessidade de uma arte harmonizada com o contexto social e com o perfil do público que se formava. Em meados de 1789, a burguesia capitalista industrial consolidou um padrão artístico próprio, em oposição aos padrões da aristocracia que vigoravam nos três séculos anteriores. Essa nova arte é o Romantismo. O Romantismo transpirava rebeldia e gosto pela liberdade, foi uma fase voltada para os assuntos contemporâneos e para o cotidiano do homem burguês do século XIX. Esse valorizava o homem emotivo, intuitivo e psicológico, e por isso desprezava o racionalismo dos iluministas. O Romantismo é a manifestação cultural de uma época de transformações e rupturas, de lutas e incertezas. Na literatura romântica se verificam traços típicos do gosto e da sensibilidade moderna. Entre outras, o Romantismo apresenta as seguintes características: - Individualismo: O homem burguês deu livre expressão a seus sentimentos e emoções mais íntimos. - Feição anticlássica: A estética romântica proclamou a liberdade individual do artista. - Fuga da realidade: A insatisfação com o mundo leva o romântico a fugir da realidade, expressando suas obras de várias maneiras: fuga para a natureza, fuga para o passado, fuga para o interior de si mesmo, fuga para o lado noturno de vida, para o misticismo, o sobrenatural, o sonho, a loucura ou a própria morte. - Nacionalismo: O nacionalismo romântico floresce, e propaga a idéia de que cada povo é único e criativo, e expressa seu gênio na linguagem, na literatura, nos monumentos e tradições populares.